Oi alunos,
Como havia prometido, aqui a crônica que escrevi a uns anos atrás e que fez sucesso na internet.
Crônica é uma forma de contar os acontecimentos do dia a dia de maneira a prender a atenção do leitor. Usando as palavras para "amarrar" o texto de forma a envolver que está lendo.
Esta é uma história absolutamente verdadeira.
Deixem seus comentários.
O Pão de queijo
Essa história de pegar receita na internet é uma coisa, mesmo. As vezes sai cada coisa!
Pois bem, num sábado qualquer, melancólico e solitário, estava eu a navegar na dita rede mundial. Lendo um blog de um amigo, achei uma receita de pão de queijo, intitulada: Pão de queijo, do bom! Como boa mineira frustrada que sou, decidi me aventurar em mares nunca dantes navegados; a cozinha!
Li com atenção os ingredientes, o passo a passo, chequei a despensa; é claro que eu não tinha nem polvilho azedo, nem doce e ainda fiquei pensando qual a diferença entre um e outro. Mas como a receita vinha de um site de amigo, altamente confiável, não vi mal nenhum em pegar o carro e correr ao supermercado mais próximo a procura dos tais polvilhos.
Chegando em casa, dei uma de celebridade em programa culinário: tudo bonitinho e arrumadinho na mesa, medidas, apetrechos, enfim, tudo bem organizadinho para minha empreitada.
Ferver o leite e o óleo, achei um pouco demais, tanto óleo, mas quem sou eu para discutir com o especialista em pão de queijo? Escaldar os polvilhos doce e azedo com a mistura de óleo e leite, mexer um pouco para esfriar, colocar os ovos, todos os três e colocar a mão na massa!
Comecei amassando com vontade. A receita dizia que quando desse o ponto, soltaria das mãos... E fui amassando e amassando e amassando e nada da massaroca soltar da mão! Pensei com meus botões: - Quando a vó fazia pão, ela ia colocando farinha até soltar da mão! Claro, colocar mais polvilho!
A ideia era simples e brilhante! O problema que com as duas mãos grudentas, foi uma luta conseguir abrir os saquinhos dos polvilhos e colocar na bacia da massaroca. Quando finalmente consegui, descobri que os tais polvilhos são fininhos, fininhos e levantam poeira... literalmente! também aprendi uma coisa nova: calça preta, camiseta preta e cabelo preto não combinam com nuvem de polvilhos sobrevoando a cozinha! Pareciam pózinhos mágicos saídos da cartola de um mágico! Pó pra tudo que é lado!
Baixada a poeira, e não é que deu certo? A massa do pão de queijo desgrudou das mãos e se transformou numa massa homogênea, igualzinha a descrita na receita. Fiz as bolinhas mais perfeitas possíveis, umas belezuras! Pré aqueci o forno, coloquei as bolinhas perfeitas na forma e coloquei pra assar. Enquanto os trens, quero dizer; os pães, assavam, me dispus a arrumar toda a bagunça feita na cozinha.
Café passando na cafeteira, mesa posta e trinta minutos depois, o cheirinho de pão de queijo já invadia a casa. Está certo que é uma mistura de cocô de gato com vômito de criança, mas a gente adora!
Os meninos chegaram, fazendo a sua algazarra de sempre! Sentindo o cheiro do lanche, foram se chegando e esfregando as mãos. Num coro unisom:
- Pão de queijo! Ueba!
Tirei as lindezas do forno; bonitos, perfeitos e bem mal cheirosos, como convém a um bom pão de queijo! Resolvi experimentar primeiro, antes de submeter as minhas crias a experiência. Mordi com cuidado para não queimar a lingua, mas com gosto.
O problema é que a coisa grudou no meu dente e não soltava nem a marretada, sem contar que como estava quente, foi queimando aos poucos aquela pelinha sensível que fica no céu da boca, bem pertinho dos dentes. O menino mais velho olhava aquilo com um misto de incredulidade e diversão. Enquanto eu tentava me desvencilhar do pão de queijo fervente e grudento, o menino colocou um pedaço na boca. Cuspiu-o na mesma hora, com cara de nojo:
- Credo, mãe! Que coisa horrível é essa? pensei que era pão de queijo!
- Eu também. - Com a boca cheia de coisa grudenta.
O pequeno chegou mais perto e olhou a cena com atenção e decidiu participar de forma mais ativa.
- Vou comer um!
- Acho melhor jogar fora!
- Mas, é pecado jogar comida fora!
- Mas isso aí não é comestível!
- Coitada da mãe! Ela fez com carinho!
- Mas nem ela consegue comer. Olha lá! Está grudado no dentão dela!
- Ah, seu enjoado, vou comer assim mesmo!
E rapidamente arremessou um na boca. Depois de um silêncio sepulcral de uns segundos, o pequeno soltou:
- Mas que pelamordedeus! Que coisa ruim! - Cuspindo tudo que a essa altura do campeaonato tinha virado uma coisa farinhenta e estranha.
Após alguns minutos de risadas dos meninos e desgosto meu, os meninos perceberam que as bolinhas estava duras feito pedra; batiam no mármore da mesa e riam. Decidiram arrumar outras finalidades para o tal pão de queijo que não fosse comestível: peso de papel, bala de matar javali, atirados juntos de um avião, poderiam se tornar arma de destruição em massa, pedra de bodoque.
Como a fome estava a apertar, resolvemos ir os tres comer pão de queijo. Numa casa especializada em pão de queijo.
No dia seguinte, aquela enorme quantidade de pedras fora atiradas ao lixo. Claro que furaram o saco!